Cicloviagem SP - Ilhabela 04/11/2008

Olá pessoal:

Bom, difícil esconder a minha felicidade em escrever esse relato. Na verdade não preciso esconder, apenas preciso escolher bem as minhas palavras para descrever o que eu vivi nos últimos 4 dias de minha vida.

Alguns aqui do fórum me conhecem por fotos, outros apenas por email, mas poucos já me viram de perto. Nem de longe tenho o biótipo básico de um ciclista, mesmo amador. Tenho 2 metros de altura, peso 140kg, fumo e bebo. Sou casado e tenho uma filha. Muitos duvidam que eu consiga subir numa bicicleta. Outros custam à acreditar que eu pedale regularmente. Mas muita gente não acreditou que eu levaria a frente a idéia de fazer uma viagem de bike.

A idéia surgiu em 2006 e o meu destino teria que ser Ilhabela-SP. Porque? Não saberia explicar... Adoro aquele lugar. Minhas primeiras férias eu passei lá, minha despedida de solteiro e lua-de-mel também aconteceram na ilha. A primeira vez que a minha filha viu o mar, ainda bebe, também foi na ilha. Lá encontro paz. Meu refúgio.

Por duas vezes tive tentativas frustradas de embarcar nessa aventura: Em 2006, acabei desistindo na última hora, pois o orçamento estava muito curto. Já em 2007, às vésperas da tão sonhada viagem, tomei um tombo de bike que me tirou 1 mês de cima do selim.

Neste ano não deixei por menos. Apesar de ter tomado um sério tombo em julho, onde rompi os ligamentos do ombro, deixei um pouco de lado as trilhas e single tracks e voltei a me dedicar às longas pedaladas. Comecei a ler mais sobre o cicloturismo e comecei a me preparar.

Foram 3 meses de treinamento, 1000km rodados. Testei vários tipos de relações, quadros, 5 medidas de pneus, com dezenas de calibragens diferentes. Fiz 2 bike fits, tirei a suspensão... coloquei de novo... Troquei selim, testei algumas bermudas, manoplas e guidões. Fiz alguns percursos de trechos da minha viagem (Vide tópico Preparação SP-Ilhabela) e discuti, mas discuti muito com os amigos do fórum. Visitei 6 bikeshops em busca do ajuste perfeito da bike. Fiquei 1 semana acompanhando 5 sites de previsão do tempo, pelo menos 10 vezes por dia... paranóia...

E o tão sonhado dia chegou. 4/11/2008, meu segundo dia de férias. Não queria dar espaço para a preguiça, nem para os afazeres domésticos. Resolvi encarar meu desafio logo no início. Malas prontas, bike pronta, previsão do tempo confirmada e vamos lá.

1º Dia: SP – Bertioga (4/11 Terça-feira)

Saída: 7:20hs / Chegada: 19:12hs
136,11 km / 7,49hs Pedaladas
Media: 17,4 km/h

Saí de casa cedo, confiando na previsão do tempo, que realmente se confirmou durante o dia. Uma manhã bonita de sol, quente, mas sem ser escaldante. Saí da garagem do meu apartamento no Ipiranga/SP com destino à Av. Salim Farah Maluf, afim de chegar a Marginal Tiete. Apesar do horário de pico, não havia muitos caminhões nem muito trânsito. Me senti ofegante demais no início da pedalada, o nariz escorrendo, mas achei que era apenas emoção. Após algumas fechadas e sustos, cheguei a temida Marginal Tiête, porém à encontrei muito calma, demais até, parecia um domingo e não uma terça-feira de manhã. Logo alcancei a Rodovia Airton Senna, com destino à Mogi das Cruzes, que seria a minha parada para almoço. Ao chegar na rodovia, pensei: “Vou mandar forte nesse tapetão, assim ganho tempo...”

Ledo engano... Na primeira subida...o primeiro pneu furado. Fiquei intrigado, pois os pneus e câmaras eram novas e estava usando Mr Tuffy. Ao olhar o pneu já logo vi o arame espetado. Furou até a fita de aro !!! Mas bola para frente, que está bom demais:

Dei uma bela puxada nos pedais, aproveitando ainda o sereno da manhã e o transito muito leve na rodovia. Logo cheguei ao primeiro posto e meu primeiro pit-stop. Pão de queijo e Gatorade

Saindo dalí encontrei tudo tranquilo até a tão temida serra de Mogi. E entendi porque ela é tão temida: Uma subida longo, íngrime e interminável. Ao fim dessa subida senti algo estranho na minha roda traseira, algo estralando, não me importei e continuei a pedalada

Quando a subida acaba, dá par a ver a cidade de Mogi das Cruzes inteira lá embaixo: Enquanto isso, minhas roda traseira continua estralando.

Ao chegar no Anel viário de Mogi, ouvi um grande barulho na parte traseira da bike: Pensei que o baú tivesse se soltado e caído no chão. Mas o que estava acontecendo é que o cambio estava encostando nos raios, não sei porque. Fui verificar e já havia 3 raios quebrados. Mas tudo bem, estava na cidade e estava num ritmo bom e adiantado no horário. Dei uma passada na Bike Tech Mogi, onde fui gentilmente atendido pelo Eric e por um outro rapaz, que infelizmente não me recordo o nome, mas que ficou comigo até que a bike fosse consertada. O mecânico deu uma olhada e o diagnóstico: Gancheira torta e roda desalinhada. Aproveitei para amoçar tranqüilo e acabei perdendo a noção da hora.

Como havia outras bikes na frente, acabei ficando 2 horas na loja. Mas a espera agoniante acabou terminando em uma gentileza da loja: Me reconheceram como comprador assíduo da loja e não me cobraram o serviço ! Fiquei muito contente com a gentileza e segui viagem.

Apesar de ter pego todas as dicas para encontrar a rodovia Mogi-Bertioga, me perdi na cidade e aí perdi mais 30 minutos, dando voltas intermináveis na cidade, evitando andar na contra-mão, nas ruas estreitas do centro da cidade.

Finalmente encontrei a estrada e quando comecei a pegar ritmo de novo.... mais um furo no pneu, novamente o traseiro. Parei, fiz todo o ritual de trocar a câmara e quando estava colocando a roda de novo na bike a válvula da câmara estourou, não sei como...

Comecei a ficar nervoso, não só com a situação, mas tbm com o calor, que começava a queimar forte a cabeça. E comecei a me preocupar também com o horário, pois já eram mais de 15hs e ainda estava na metade do caminho.
Dei mais uma paradinha para mais um Gatorade e uma barrinha de cereal.

E a fatiga começo a bater… Cheio de subidas e descidas. Começou o trecho de serra:



E misteriosamente o tempo mudou completamente. Frio e garoa fina. Minha garganta começou a raspar. Mas a frente, a neblina tomou conta de tudo, fazendo com que a visibilidade caísse para 2 carros a frente, no máximo:


E o acostamente tbm sumiu



Início do Parque Estadual Da Serra do Mar: Visibilidade quase zero

E aí começou a descida da serra: Foi, sem dúvida a coisa mais inconseqüente que eu já fiz em toda a minha vida. A Polícia Rodoviária Federal, fechou a pista para descida e subida por alguns minutos, por causa da visibilidade. Imagine quem desceu a serra inteirinha sozinho???



77km/h de máxima !!!

Ao chegar no final da serra, estava com a adrenalina tão a mil que estava até tremendo. Mas o cansaço bateu legal depois da serra. Não via a hora de chegar em Bertioga, pois estava com muita fome e a uma estranha dor de garganta começava a me pegar.
Depois do trecho de serra, foram 8 km de plano até chegar a entrada de Bertioga, com mais um pneu furado:



E a minha chegada ao hotel, só no bagaço. Pelo menos o quarto era de frente para o mar

Já no quarto, o detalhe da bike e do baú/bagageiro:


2º Dia: Bertioga - Boissucanga (5/11 Quarta-feira)

Saída: 8:25hs / Chegada: 13:34hs
59,92 km / 3,34hs Pedaladas
Media: 16,8 km/h

Ao passar uma noite horrorosa em Bertioga, notei algumas falhas no planejamento de minha cicloviagem:
- Apesar da grande quilometragem rodada em treinos, nunca tinha feito um treino com mais de 100km;
- Troquei de selim na semana da viagem, só testei ele por 60kms;
- Comprei duas bermudas novos para viajar e só testei durante a viagem;
- Pneus 1.0 são uma porcaria para cicloviagens, principalmente com garoa fina e sem acostamento.

Acordei muito mal, cansado, com dores nas coxas (como nunca tive na minha vida) e totalmente sem voz e com muito catarro na garganta. Amanheci com uma assadura gigante na região do períneo e com muita dor de cabeça. Pensei por mais de uma vez em desistir, mas resolvi tocar em frente, lembrando que o dia seria, sem dúvida, o mais agradável dos 3.

Tomei um café da manhã reforçado, carregado de carboidratos e me hidratei muito bem. E saí rumo a Boissucanga.

Ao sair da cidade, percebi mais um erro de planejamento: Por não conhecer muito bem o local e ter mudado de última hora o percurso (Inicialmente eu iria descer pela estrada de manutenção da Imigrantes-Santos-Guaruja-Bertioga).Por ter optado pela Mogi-Bertioga, saí da Rio-Santos por 8km até Bertioga e no dia seguinte percorri os mesmo 8km de volta, até chegar na Rio-Santos novamente. Tudo bem que era tudo plano, mas foi vacilo da minha parte, confesso:

E aí se iniciou o trecho mais bonito que eu já pedalei na minha vida:

Fala sério ?!?!? Neste momento lembrei de todas as discussões sobre andar na mão ou na contra mão do fórum:

Riviera de São Lourenço:


Não sei exatamente onde estava aqui, mas o visual era muito bonito:

Barequeçaba:



Jureia:

Já chegando em São Sebastião:

Parada para um refresco em Juqueí:

Camburí:

Serra de Boissucanga: Meu Deus !! Aja perna aqui !!! Só paredão, mas o visual compensa:



Chegada ao Hotel e acomodações:



Happy-hour “caiçara”:


Nessa noite dormi bem, acompanhado de relaxantes musculares e o bom e velho Hipoglós, minha assadura piorou muito neste dia e a minha garganta também. A noite tive um pouco de febre, mas tudo beleza.

3º Dia: Boissucanga – Ilhabela (6/11 Quinta-feira)

Saída: 8:38hs / Chegada: 13:09hs
40,22 km / 3,25hs Pedaladas
Media: 11,7 km/h

Todo mundo tem a sua idéia de “inferno” certo? Então antes de reclamar daquela subidinha em uma trilha, ou aquele aclive mais acentuado na estrada, venha conhecer a famosa serra de Maresias.

Havia pesquisado o trecho e me disseram que eram 7 km de subida íngrime. Na verdade são 29km de subidas ingrimes, com 12km de subidas indescritíveis. O primeiro trecho, que é a parte que sobe até chegar em Maresias me fez pensar várias vezes em pedir carona. A subida faz com que os carros 1.0 tenham que subir em primeira marcha e os caminhões e ônibus sobem a ma velocidade não superior a 10km/h. Dei graças aos céus por ter equipado a bike com coroa de 32 dentes, mas me arrependi de não ter colocado a coroa de 22 dentes. (mais um erro de planejamento de viagem).




Já lá em cima, pronto para descer até Maresias. Reparem na cara de choro...


Em Maresias:

E eu todo contente, achando que tinha acabado todas as subidas, logo depois de Maresias, começa tudo de novo. Após cada curva, um palavrão. Após cada descida, a certeza de outra subida. No meio da serra, me senti mal e vomitei. Sentei no chão e simplesmente chorei. Não tinha mais forças. Sabia que estava próximo do objetivo, mas não conseguia mais. Mas aí passou caminhão de coleta de lixo, que já tinha cruzado comigo no início da serra antes de Maresias e os lixeiros começara a gritar: Vai negrão !!! Não desiste agora, falta pouco !!! Você não veio de tão longe para desistir agora !!! Reuni as minhas últimas forças e comecei a pedalar...100 metros e parava, ofegante. Pedalava mais 70 metros e parava de novo. Chorando de dor nas pernas, perturbado com o calor infernal e xingando o desgraçado do engenheiro que projetou aquelas pistas, cheguei até a última descida... A do porto de São Sebastião... A balsa para a Ilha !!!!



Ao chegar na Balsa, sentimento de dever cumprido. Mas tão cansado, que nem consegui comemorar. Naquela hora, se me perguntassem se valeu a pena, teria respondido que não. E para piorar, começou a chover justamente na hora que eu cheguei. 3 dias pedalando em baixo de sol e na chegada chuva???



Agora sim, dever cumprido.Nem acredito que cheguei até aqui.Liguei para a minha esposa e para o meu pai falando que eu tinha chego e que estava tudo bem. Mas pelo cansaço, nem demonstrei muita emoção, disseram eles...


Da janela do hotel, A Ilha Das Cabras (Praia Pedras Miúdas)

Visual da Praia:

E não é que depois de tomar banho, fui verificar a bike e o pneu estava furado... De novo !!!!

E depois que o sol abriu, o cansaço passou, olha a cara do felizardo !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Sonhei com esse momento por vários anos. Agora consegui realizar, já começo a planejar a próxima viagem !!!!!

Dados:
Total Pedalado Viagem: 236,25kms
14,8 Horas Pedaladas
Média: 15,96lm/h

Bertioga:
Pousada do Francês:
http://www.pousadadofrances.com.br/
Tel: (13) 3316-2626
Diária: R$70,00 (Café da Manhã)
Reserva: 4/11
Gerente: Andréa
Endereço: Av. Tomé de Souza, Praia da Enseada (Bertioga)

Boiçucanga:
Aparthotel Sol Boiçucanga
http://www.soldeboissucanga.com.br/
Tel: (13) 3284-3466 / (12) 3865-1107
Diária R$80,00 Sem Refeição (C/Cozinha)
Reserva: 05/11
Gerente: Maria José (Escritório Santos)
Ester/Daniela (Boiçucanga)
Endereço: Av. Walkir Vergani, 1070

Ilhabela:
Hotel Colonial Ilha Bela
http://www.colonialhotelilhabela.com.br/
Tel: (12) 3894-9414
Reserva: 06/11 até 7/11 (15hs)
Gerente: Gil
Diária: R$88,00 (Café da Manhã)

Rodoviária São Sebastião:
Viação Litorânea
R$38,64 Até SP (Rodoviária Tiete)
Tempo estimado: 3:40m
0/xx/11/6221-0244 (São Paulo)
0/xx/12/452-1072 (São Sebastião)

Bike Tech Mogi
http://www.biketechmogi.com.br/
Tel: 4799-0996
Endereço: Rua Prof Flaviano de Melo, 984 CENTRO















Um comentário:

  1. Oi Luciano,

    Parabéns, foi mesmo uma grande aventura.
    Gostei do baú muito prático.

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