Esse texto me inspirou e me fez mudar de idéia durante a montagem da
minha antiga Caloi 10. É uma entrevista do Bryan Luce, sócio
proprietário da Renaissance Bicycles, especializada em o que eles chamam
de "rebirth bicycles” criações individuais que fundem quadros vintage
com componentes modernos.
O texto foi traduzido e adaptado por mim, porém segue o link para a leitura na íntegra da entrevista original.
http://www.ecovelo.info/2010/08/24/an-interview-with-bryan-luce-of-renaissance-bicycles/
“Tenha em mente o upgrade de rodas 700cc para conversões de antigas
rodas 650B (27”), atualização de antigas catracas (freewheel) de 6
velocidades para kits de cassete e câmbio traseiros modernos. Pegar uma
antiga bike vintage de 3 velocidades e torna-la uma rápida Single
Speed. Uma bicicleta " renaissanced " também tem alguns toques pessoais
que imitam o estilo do proprietário . Há um sentimento de singularidade e
individualidade. A bike e o Biker combinam. Em termos práticos, uma
bicicleta " renaissanced " poderia ter sido largada num canto empoeirado
da garagem ( aquela bike atrás do cortador de grama, na frente das
antigas latas de tinta , sob a lona ), mas foi agora reavivada
cuidadosamente para proporcionar muitos mais quilômetros de pedal
agradável. Pode não ser a mais leve , verticalmente compatível ou
lateralmente mais dura , mas é, provavelmente, aquele que traz o maior
número de sorrisos”
Pessoalmente, eu estava à procura de fazer algo único , algo com
valor intrínseco (e espero) extrínseco. Ciclismo sempre foi minha paixão
, e tenho uma afinidade com bicicletas Vintage , então parecia lógico
extender isso em uma vida profissional. Tenho experiência em web design e
fotografia e sempre gostei disso como um hobby. Através da minha
própria curiosidade e ajustes , adquiri algum conhecimento especializado
sobre bicicletas Vintage. Além disso passei inúmeras horas em
pesquisas intensivas sobre Bikes Vintage na Internet. Por que não usar
isso para criar algo que vale a pena ?”
”Em um nível mais pessoal, eu sempre fui intrigado com a mecânica ,
design e sua sinergia em estética . Hot Rods e carros clássicos sempre
estiveram fora do meu alcance financeiro , mas adoro a satisfação
individual que eles proporcionam. Como escrevi anteriormente , a maioria
das pessoas tentam fazer a escolha sensata para comprar um Honda, ou
um Toyota, mas é preciso algo especial para olhar para um carro
enferrujado largado em um terreno baldio e ver o potencial para um Hot
Rod . Isto é o que eu tento fazer com as bicicletas " renascidas " –
Trazer esse olhar especial e visualizar o potencial em uma bike
enferrujada.”
Tomando como base a filosofia das “rebirth bicycles”, mudei
completamente o meu projeto de bike, que se prolongou (admito, por falta
de planejamento meu) por 6 meses. Há 3 anos atrás, comprei um quadro
Vintage, que julgava ser da marca Pegeout, onde o propósito inicial era
montar uma bike single speed, com a finalidade de treinar subidas com a
bike. Porém, apesar do esforço do projeto, a bike não foi utilizada e
ficou por quase 1 ano parada. A postura da bike não proporciona
segurança para o meu porte físico. Link com todas as etapas do processo de recuperação e montagem da single speed.
http://www.pedal.com.br/forum/projeto-single-speed-terminado_topic27680.html
Após essa montagem, descobri que o quadro (que julguei ser um
Pegeout) era na verdade um quadro Caloi 10 Sportíssima, tamanho 60, raro
pelo tamanho. O garfo não era original do quadro, pois ele foi
aproveitado do outro quadro de Caloi 10 que eu tive que inutilizar. Mas
de qualquer forma, ainda fiz outra montagem com a bike, mais voltada ao
lazer e com 3 marchas internas.
De qualquer forma, ainda assim, a bike não foi usada e ficou parada
por mais um tempo. Estéticamente a bike ficou com um visual “discutível”
e as 3 marchas internas me restringiam apenas à passeios em parques e
ciclovias.
Após 2013, a reforma da bike mudou de figura. Após um acidente na
bike de MTB, que tirou do pedal por mais de 1 ano, tive que vender minha
Specialized 29” que montei com tanto cuidado e totalmente
personalizada. Após essa venda, a reforma da Caloi 10 virou uma questão
de necessidade, pois fiquei sem bicicleta e queria uma bike para rodar
no asfalto, já que o acidente me deixou com algumas sequelas no ombro
que são proibitivas para um retorno ao MTB. Aí, a idéia foi radicalizar,
porém manter a bike simples e contem, principalmente os gastos com a
montagem. A idéia principal era tornar a bike “pedalável” utilizando-se
apenas das peças que eu já tinha em casa. O primeiro momento foi o
jateamente e repintura do quadro e montagem com o mesmo cubo Nexus.
http://pedalpesopesado.blogspot.com.br/2013/12/boa-dia-pessoal-16-meses-se-passaram.html
A bike ficou boa, mas a performance ficou muito restrita, devido às 3
marchas e a relação extremamente pesada, devido ao pedivela escolhido
de 42 dentes. Apesar da bike com uma nova configuração, ela continuava à
não me atender às minhas necessidades. Hoje moro em um bairro cercado
por 3 rodovias largamente conhecidas pela prática de ciclismo de
estrada. (Rod. Dos Bandeirantes, Rod. Anhanguera e Rod. Dom Gabriel
Paulino). Precisava de uma relação de marchas mais leve e ao mesmo tempo
mais alongada, que me proporcionasse subir de uma forma mais tranquila,
mas também desenvolver velocidade no plano de uma forma mais
consistente.
A primeira ídéia foi garimpar peças antigas da Caloi 10 e
transforma-la numa autêntica 10V. Porém tenho ciência de que as peças
antigas nem sempre aguentam a tranco. E o projeto parou por aí, visto
que, primeiramente as peças originais da Caloi 10 são extremamente caras
(por serem raridades) e com uma performance abaixo do que eu esperava.
Após ler o texto no site “Eco-Velo” da entrevista Bryan Luce da
Renaissance Bicycles, entendí que uma bike pode ser Vintage, mas poderá
ser modernizada, com a finalidade de rodar de verdade. Conheço alguns
colecionadores de bikes antigas e, apesar da recuperação meticulosa das
peças originais, as bikes restauradas são basicamente usadas como peças
de coleção ou de exposição, mas dificilmente seriam novamente usadas,
pois não aguentariam os esforços exigidos de uma bicicleta nos dias
atuais. Sendo assim, resolvi fazer a antiga Caloi 10 “Renascer”, de
minha forma customizada.
Apesar do visual limpo e clean dos guidões drop (ou de corrida, como
eram chamados antigamente) nunca me adaptei com a posição baixa deles.
Tentei adaptar ,nessa nova montagem, um guidão chamado de bull-horn.
Esse guidão foi construido apartir do guidão drop original de uma Caloi
10 e utilizado a técnica “chop and flip”
http://www.instructables.com/id/BULLHORN-YOUR-BARS/
Mas acabei optando por um outro guidão riserbar, deixando a posição
de pedalar mais parecida com a posição das MTBs, a qual estou mais
acostumado. O visual road frame com risebar está bem atualizado com a
nova moda das bikes fixas, onde o guidão riser é largamente utilizado. Fiz alguns testes com essa configuração, e ainda achei que a postura ainda estava muito agressiva com a frente baixa. Como queria uma posição de pedalar mais confortável, acabei reutlizando um guidão upper riser, da marca Technumm, com 10 cm de altura, que estava largado em casa, retirado de umas das minhas montagem de bike. Lixei e e dei o polimento, deixando o guidão no alumínio natural. Cortei as pontas do guidão deixando ele ligeiramente mais estreito, ficando com 680mm. Clique nesse LINK para ver o guidão montado originalmente.
No tocante a relação, como mesclar o moderno com o antigo, visando a
melhor performance, com um menor custo? Primeiramente comecei a
pesquisar na Internet sobre pedivelas triplos de Speed, que visam o
escalonamento maior das marchas, priorizando o conforto e velocidade.
Porém me interessei muito pelos atuais pedivelas compactos, onde a
relação fica mais alongada, visando a performance nas retas, mas dando
uma ajuda ainda maior nas subidas. E em uma dessas pesquisas, conheci o
termo “Wide-Range Double Crankset”
O termo basicamente refere-se à grande diferença entre a quantidade
de dentes das coroas do pedivela. Em um pedivela de MTB, normalmente
temos uma relação 22/32/42 ou 28/38/48, com uma diferença sutil de 10
dentes entre as coroas, proporcionando um escalonamento mais suave entre
as marchas. Já nos pedivelas duplos Road essa diferença é um pouco
maior, na versão 52/39 e ainda mais visivel na versão tripla de
52/39/30.
Mas eu percebí que, ao pedalar com um pedivela de MTB, a coroa mais
utilizada é a da posição intermediária, ou seja, a do meio. Mas não é a
mais utilizada porque proporciona uma relação mais leve ou mais pesada,
mas é mais utilizada porque pode ser usada com TODAS as marchas
traseiras, pois a posição da coroa permite que o chain-line fica
perfeito em todas as posições. O que já não acontece com as coroas das
posições mais externas, que é a coroa menor (que só consegue usar as 2
catracas maiores) e a coroa maior, que só consegue usar as 2 catracas
menores. Já nos pedivelas road com 2 coras, o mesmo tambem ocorre com a
coroa menor que fica na posição intermediária que pode ser usada com
todas as catracas, mas a coroa maior só pode ser usada com as duas
catracas menores.
Percebi assim que, considerando uma uma relação de MTB 42/32/22, com
um cassete de 7 velocidades, ou invés de termos efetivamente 21 marchas
(7 x 3) teriamos efetivamente 11 marchas (7 marchas com a coroa do meio,
2 marchas com a coroa menor e 2 marchas com a coroa maior).
Sendo assim, retirei a coroa intermediária (no meu caso de 32 dentes)
e instalei a coroa de 42 dentes em seu lugar, criando assim um pedivela
42/22. Mudei o movimento central de 110mm para um de 121mm afastando a
coroa menor do quadro. Sendo assim, tenho um pedivela onde as duas
coroas podem usar todas as catracas traseiras, resultando um efetivas 14
velocidades.
http://velo-orange.blogspot.com.br/2009/05/economical-wide-range-double-crank.html
Porém, para me utilizar dessa vantagem do pedivela, teria que usar um
câmbio dianteiro que tivesse uma forma de regular conforme a posição da
corrente. Pesquisei na internet e me lembrei dos antigos trocadores
“Friction Shifters” . Esse tipo de trocador não possui indexação, ou
seja, são livres e posicionam o câmbio onde você quiser. Ainda são muito
usados em bikes vintage, e o modelo TOP deles são os Shimano Dura Ace.
Mas optei por um modelo mais simples, um Sun Race, que é da mesma
marca dos trocadores originais do Caloi 10. Foi utilizado em conjunto
com uma abraçadeira Dimosil.
Como o quadro não possui aquela peça de
plástico que apoia os cabos sob o movimento central, precisei construir
uma peça, que originalmente era uma guia de freio dianteira, para apoiar
o cabo e o conduíte, transformando a passagem do cabo para o câmbio
dianteiro.
Na relação traseira, optei por um câmbio Sora de 8 velocidades, leve e
compacto, com um freewheel Shimano de 7 velocidades. Porque optar por
um Freewheel e não por um cassete? Já tive inúmeros problemas com as
esferas dos cubos que usei, portanto optei por usar um cubo de
rolamento. Normalmente os cubos de rolamente são de rosca e tive que
usar um Freewheel. Optei por um Shimano pelo confiabilidade, porém sei
que, se der algum problema, o custo de reposição é pequeno.
O câmbio dianteiro é um Shimano Alívio 2008. Está comigo há mais de 3
anos e já foi usado por muito tempo em bikes de MTB e ainda não possui
nenhum desgate aparente. Tive que improvisar uma pequena adaptação na abraçadeira, visto que o câmbio
tem abraçadeira para 31.8mm e o quadro possui diâmetro 25.4mm.
Continuando na onda “Vintage”, os manetes de freio encontrei numa
bicicletaria de bairro uma réplica dos manetes Dia-Compe das antigas
Caloi Cruiser e das Caloi Cross. Sei que é uma réplica, mas ficou muito
bonito com o visual da bike e como as duas bikes possuem freios
ferradura, a modulação ficou perfeita.
Por falar nos freios, apesar de ter os freios originais Dia-Comp da
Caloi 10, não queria usa-los, porque teria que usar as guias de freio
originais da Caloi 10 que eu acho muito feias. Para tal, tinha que achar
freios modernos que acomodassem as rodas aro 27”. Foi tranquilo, achei
freios genéricos road, mas tive que trocar as sapatas que eram uma
porcaria, por sapatas Baradinne, muito boas e macias.
E como prender o conduíte de freio num quadro que não possui os
bosses originais? Há muito tempo venho usando as abraçadeiras Hellermann
(Zip-Tie ou Enforca-Gato). Porém essas abraçadeiras deixam o visual
feio e com o tempo elas acabam saindo do lugar, deixando o conduite
torto. Além disso riscam o quadro. Fui atras das abraçadeiras originais
da Caloi 10, mas eram consideradas “mosca-mortas”.Achei no Ebay
abradeiras Dia-Compe, que completaram o visual clean da bike. Porém comprei na loja TR3ZE, custo R$35,00 (O kit com 3 abraçadeiras).
As rodas foram montadas com aros Vzan C10 polidos e cubos
Rodan Roller tambpem polidos. O cubo dianteiro teve seu eixo substituido
por um novo eixo vazado, para instalação da blocagem, que foi
recuperada de uma antiga MTB Caloi ATN.
O bagageiro traseiro é um antigo Topeak Explorer, que foi lixado e pintado epóxi na mesma cor do quadro. A idéia era que o bagageiro e o quadro se tornassem uma peça única, mas tive que adaptar a fixação superior do bagageiro na furação do freio traseiro.
Bom, a bike foi testada e aprovada. Acabou ficando com 14 marchas, então não dá para chamar de Caloi 10. Apliquei os adesivos originais da Caloi, na cor prata, somente inverti os adesivos que ficam no Seat Tube com os adesivos do garfo, para distribuir de uma forma mais harmoniosa os grafismos na bike. A bike está bem adequada à minha altura, e na minha opinião ficou harmoniosa nas linhas. Espero que gostem!
Caraca Luciano...ficou IRADA!
ResponderExcluirCurto muito esses projetos onde o improviso é a maior regra!
Parabéns pelo excelente "retrofit".
Abração!
Ficou de tremendo bom gosto. Parabéns!
ResponderExcluirShow de bola! Curto muito seu blog e fiquei triste pelo acidente que você teve, o que te impediu de continuar suas pedaladas. Espero que volte o mais rápido possível. Comprei recentemente uma bike e quero começar a pedalar pra longe.
ResponderExcluirSe possível me indica algum site estrangeiro para compra de peças e acessórios, de preferencia um que entregue sem problemas aqui no Brasil.
Obrigado
Muito bom te-lo de volta aos pedais, fico feliz por sua recuperação.
ResponderExcluirsobre a bike o projeto ficou excelente, me tirou umas duvidas sobre as marchas nos cubos e me inspirou em alguns detalhes.
peço permissão para compartilhar o link. ja compartilhando.
Um abraço.
Seu conteúdo é interessantíssimo! Mas essa fonte horrível, esse fundo horrível, torna impossível a leitura por mais de 2 minutos, dá uma lida sobre tipografia e design, é um desperdício um blog tão bom estar com esse visual!
ResponderExcluirTá tudo muito bom!
ResponderExcluirparabéns pela reforma da caloi 10 e pelo site, legal
ResponderExcluirBeleza irmão concordo em grau e gênero .
ResponderExcluirComprei uma magrela agora Caloi 15 marchas speed antiga....
Está Byck bate em muitas novinhas por aí....kkkk
Estou intusiasmadissimo .....
Tenho muita disposição para pedalar.
A estória e o texto ficaram demais. E parabéns pela bike.
ResponderExcluirOlá. Muito legal a recuperação. Vc poderia me ajudar na identificação de um quadro de speed que comprei e não consigo saber o fabricante. João de Belém do Pará. jasoaugusto01@gmail.com
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