E o projeto tomou outra direção...
É
curioso como, quando desenvolvemos um projeto de montagem de uma bike
nova, o que tínhamos planejado “teoricamente” e que funcionaria
perfeitamente não funciona como o esperado na prática.
Tinha
desenhado na minha cabeça uma bike simples, com cara de Single Speed,
leve e espartana. O cubo Nexus de 3 marchas internas me
daria 2 opções diferentes de relação, se comparado efetivamente com uma
Single Speed. Fiz algumas alterações na relação da coroa e do pinhão
originais (a Shimano sugere uma relação de 2 x 1, ou seja, o dobro de
dentes na coroa em relação ao pinhão. Como o
pinhão original do cubo Nexus é de 18 dentes, tinha 2 opções de coroa:
32 e 42 dentes. Usei a opção de 42 dentes e substitui o pinhão por um de
23 dentes, deixando a relação em 1,83, propositalmente baixa para
encarar as subidas da minha cidade.
Porém,
depois de totalmente montada a bike, fui mostrar-la para o meu pai, que
também está pedalando com frequência. Ele olhou a bike,
ficou contente com o resultado visual me perguntou: "Filho, você vai
conseguir me acompanhar nos pedais com essas marchas?" Na hora eu
respondi que sim, mas depois de dar umas voltas com a bike, percebi que
ficaria restrito à pequenos treinos, com aclives leves
e moderados, porque a relação ficou alta, tendo em vista dois fatores: A
topografia da minha cidade e a minha condição física atual. Apesar do
conforto que o cubo de marcha interna apresenta, achei que o Nexus 3
deveria ser utilizado em bikes de passeio. Como
a idéia é montar uma bike para andar na cidade, o cubo se mostrou
inadequado para o projeto.
Então
botei a cabeça para funcionar. Primeiramente fui fazer o cálculo do
Gear Ratio do Nexus 3 (relação de quantidade de voltas da
roda por voltas do pedivela, calculada dividindo o número de dentes da
coroa pelo número de dentes do pinhão, onde
Quanto maior for o resultado da divisão, mais alta (mais pesada) é a relação).
O cubo de marcha interna possui um Ratio interno de 0,733% na marcha
mais pesada, e 1,333% na marcha mais leve. Considerando o pinhão
de 23 dentes, teríamos uma relação teórica e aproximada de 17, 23 e 31
dentes no pinhão. Com o pedivela de 42 dentes, teríamos o seguinte Gear
Ratio:
|
|
Amplitude
|
|
42
|
182%
|
17
|
2,471
|
|
23
|
1,826
|
|
31
|
1,355
|
|
Olhando
friamente o Gear Ratio, percebi que a bike não se sairia bem nas retas e
descidas (a relação ficaria muito leve) e definitivamente
não aguentaria pegar nenhuma das subidas da minha cidade, porque a
relação mais leve seria superior a uma relação direta, ou seja, 1 para
1, transformando qualquer subida em um martírio A amplitude (Range Gear)
entre a mais marcha mais leve e a mais baixa
é de 182%, muito inferior a um câmbio convencional de 7 velocidades.
Outra coisa que me chamou atenção foi a distância entre uma marcha e
outra, chegando a quase 74% entre as marchas. Isso significa que seria
quase impossível pegar uma estrada e manter um
mínimo de cadência, exceto se a estrada fosse completamente plana.
A
primeira coisa que eu pensei foi de pegar um Nexus 8 ou um Alfine 11,
mas havia dois fatores impeditivos: O primeiro é o preço,
aproximadamente
R$800,00 no Nexus 8 e cerca de R$1500,00 no Alfine 11 (muito fora do
orçamento total da bike). O segundo fator impeditivo é que, apesar do
número maior de marchas, a amplitude das marchas também não é muito
grande (308% no Nexus 8 e 403% no Alfine 11). Por
esses fatores, decidi optar por voltar aos câmbios normais.
Mas
aí, para conter gastos, comecei a separar o que eu tinha em casa para
poder usar na bike, para diminuir o gasto total e se manter
compatível com a proposta da bike. A primeira dúvida foi sobre o câmbio
traseiro, porque o quadro possui gancheira horizontal e não possui
gancheira para câmbio. Num primeiro momento pensei em comprar um câmbio
Shimano Tourney já com gancheira, mas achei-o
muito simples e decidi optar por um câmbio Sora, que eu já tinha em
casa semi-novo e comprei uma gancheira original da Caloi 10 Mas a
escolha do câmbio de speed me impediu de optar por um cassete/catraca
Mega Range (com 34 dentes no maior pinhão). Porém,
por experiência própria, é difícil regular esse cassete, principalmente
pelo salto enorme entre a o pinhão de 34 e o próximo pinhão de 28
dentes. Sendo assim, também optei por um cassete/catraca de Shimano 7
velocidades 14/28. O cubo que vai substituir o Nexus
é Rodan Roller 36F de rosca e eixo de 3/8.
Até
aí tudo estava resolvido, mesmo porque as opções eram limitadas e não
tinha muito que escolher. Mas e o pedivela? O que está na
bike é um Sugino de 5 pontas, porém de MTB (Igual aos antigos Deore LX
de 5 pontas). O pedivela está montado com a coroa maior de 42 dentes.
Tenho guardado as outras coroas, mas sei que a coroa de 32 dentes está
bem gasto, tanto é que na minha cicloviagem
para Caraguatatuba ele falhou durante todos os quase
200 km. A coroa pequena de 22 dentes está bem novinha e entrou como
opção. Mas aí ficou a dúvida: Será que funcionaria um pedivela duplo com
espaço tão grande entre as coroas? Bom, pesquisando no Google, isso que
eu queria fazer os gringos
já fazem a bastante tempo, com o nome de “Double Wide Crankset”, ou
literalmente pedivela duplo largo. Esse tipo de montagem de pedivela
acompanha a mesma teoria dos pedivelas compactos de speed, com uma coroa
que privilegia a performance e outra menor com
opção para as maiores escaladas. A idéia principal eu copiei desse
blog: (http://velo-orange.blogspot.com.br/2009/05/economical-wide-range-double-crank.html)
que
explica em detalhes o porque de um pedivela desses adaptado e como
realizar a conversão.
Basicamente, é desmontar o pedivela, instalar a
coroa maior na posição da coroa do meio (para diminuir a distância entre
as coroas) e instalar a coroa pequena, seja de
22 ou de 26 dentes. O câmbio dianteiro deve ser instalado no limite da
altura do coroa maior e deve ser o mesmo do tipo do pedivela (pedivela
road – cambio road/ pedivela MTB – Câmbio MTB). A regulagem dos limites
do câmbio deve obedecer as duas posições,
já que a maioria dos mudadores de coroa é para 3 velocidades (exceto os
de road). É importante também inverter a posição dos parafusos da
coroa, a fim de que não raspem da corrente, quando estiver usando a
coroa menor.
No
blog acima o autor também explica que, numa bike touring normal, com 7,
8 ou 9 velocidades, o espaçamento das catracas é constante
o que propicia um bom escalonamento das marchas. Porém os pedivelas
tradicionais possuem escalonamento mais próximo como 48x38x28 ou
46x36x26 e o mais comum 42x32x22. Com esses escalonamentos padrões você
aumenta o número de marchas, porém também aumenta a
quantidade de marchas repetidas ou de marchas proibidas (pelo
cruzamento da corrente). Além do que a única coroa que permite a
utilização de todas as marchas é a do meio (obviamente por fica bem no
meio do cassete, anulando o efeito de cruzamento da corrente).
Mas na configuração padrão, ou você privilegia a velocidade e perde nas
subidas (48x38x28) ou ganha nas subidas e perde na velocidade
(42x32x22).
Num
pedivela triplo normal usado com um cassete de 7 velocidades, você
teria teoricamente 21 marchas. Porém, para evitar o cruzamento
das marchas, você consegue apenas usar parte delas. Com a coroa menor,
dá para usar os 3 maiores pinhões e com a coroa maior, daria para usar
os 3 menores pinhões, às vezes somente os dois menores (varia de acordo
com o tamanho do movimento central usado).
Já com a coroa do meio, você conseguiria usar todos os pinhões, porém
não consegue o máximo de varia de marcha leve, nem o máximo de variação
na marcha pesada. Considerando 3 marchas com a coroa menor, mais 3 da
coroa maior, mais as 7 marchas da coroa do meio,
teríamos um total de 13 marchas permitidas, das 21 marchas instaladas.
Como a única coroa que permite a utilização de todos os pinhões é a do
meio, porém ela se torna ineficiente em questões de desempenho, ela se
torna inútil na maior parte dos casos.
Com
um pedivela modificado para Wide Double, a coroa maior acomodada na
posição de coroa do meio, propiciar a utilização de todos os
pinhões traseiros, com otimização máxima da marcha mais pesada, visando
a velocidade, porém com um escalonamento suave até a máxima marcha leve
que a coroa permite. E ao optar pela coroa menor da sua posição
original, consegue-se uma otimização da marcha mais
leve com uma transição suave até o quinto pinhão mais pesado, onde a
relação ficaria proibida por conta da corrente cruzada. Mas mesmo
perdendo 2 posições do cassete, devemos analisar que, o Gear Ratio
dessas marchas perdidas se repete com a coroa maior. Efetivamente
haveria a perda de apenas 1 marcha na coroa menor e aproveitamento de
100% dos pinhões na coroa maior. Utilizando-se de um cassete simples de 7
velocidades e duas coroas espaçadas de 22/42, se consegue um Gear Range
(amplitude) de 400% com 12 marchas reais,
funcionais e com otimização máxima do desempenho e do conforto.
S
|
|
22T
|
42T
|
P
|
14T
|
1,571
|
3,000
|
R
|
16T
|
1,375
|
2,625
|
O
|
18T
|
1,222
|
2,333
|
C
|
20T
|
1,100
|
2,100
|
K
|
22T
|
1,000
|
1,909
|
E
|
24T
|
0,917
|
1,750
|
T
|
28T
|
0,786
|
1,500
|
Amplitude
|
|
200%
|
200%
|
O
câmbio dianteiro escolhido foi um Alívio 2010 que eu tinha em casa e
que usei muito no passado, até que foi substituído por um Shimano
SLX na bike aro 29”. O câmbio tem abraçadeira de 34.9mm e o quadro
possui diâmetro de 26.8mm. Foi necessário a confecção de uma bucha de
alumínio para acomodar o câmbio. Esse câmbio é
double-pull ou seja, puxa por baixo ou por cima. Originalmente
a Caloi 10 utiliza câmbio com puxada por baixo, com utilização de uma guia de cabo que é presa no final do
Down
Tube. Como não queria usar essa abraçadeira (até mesmo porque
não possuo a peça) prefiri utilizar a puxada do cabo por cima. Como o quadro não possui os “Stopper”
de cabo, utilizei a guia original de conduíte de freio que é presa do
parafuso do canote de selim. Ficou bem discreto e funcional. Como o
pedivela e o câmbio dianteiro são de MTB, acredito que tudo deva
funcionar perfeitamente.
Para
os trocadores de marcha, optei por um trocador Sun Race de mesa de
guidão. Optei por esse tipo de trocador por dois motivos: O
primeiro motivo é a manter a linha “Vintage” da bike e realçar o visual
clean. O segundo motivo deve-se ao fato de que esses trocadores são
deslizantes e não indexados, e vão facilitar no ajuste das trocas de
marcha, principalmente da coroa, onde poderá ser
feito um ajuste fino durante a pedalada, permitindo a utilização de
todas as marchas sem raspar no trocador.
Me lembro claramente que, nos primórdios do MTB, os trocadores eram deslizantes. E me lembro que, apesar de que as trocas não ocorriam rapidamente como num sistema indexado, raramente as marchas escapavam, pois é possível regular cada marcha no seu lugar.
Outra
novidade que vai entrar na bike é o bagageiro traseiro. Para mim, bike
touring sem bagageiro não dá né? Optei por utilizar um
bagageiro que usei muito durante minhas viagens, um Topeak Tourist para
freio à disco. Algumas adaptações no bagageiro foram feitas, como o
sistema de encaixe superior (o quadro não possui suporte para bagageiro
na parte de cima, sendo que os bagageiros convencionais
para Caloi 10 são presos na abraçadeira de selim). Sendo assim, foi
utilizado um par de adaptadores de V-Brake para fixar o bagageiro na
parte superior. O bagageiro foi jateado, lixado e pintado da mesma cor
do quadro em pintura à pó.
Agora a bike está quase pronta. Está faltando regular o câmbio traseiro, fixar o bagageiro na parte superior, encurtar um pouco a corrente e fixar os cabos e conduítes. Daí vai ser sair e pedalar, voltando à forma e mandar bala com a bike.
Parabens pela bike e experiencia postada com o Nexus. Espera mais dele. mas vc provou que nao compensa o custo.
ResponderExcluirtenho uma igual a sua com relacao 14V. 52-39T x 14-28T. uma Gama excelente para o uso Urbano.
troquei o guidao drop por um reto com manetes cantlever.
abrs
Mauriney
Sao jose dos Campos SP